Paráfrase
“Às vezes, quando os estudantes tentam explicar o ponto de vista de um filósofo, fazem-no através de paráfrases muito próximas às próprias palavras do filósofo. Mudam algumas palavras, omitem outras, mas geralmente ficam muito próximos do texto original. Por exemplo, Hume começa o seu Tratado Sobre o Entendimento Humano da seguinte forma:
Todas as percepções da mente humana se dividem em dois tipos distintos, a que irei chamar impressões e ideias. A diferença entre eles consiste no grau de força e vivacidade com que afectam a mente e entram no nosso pensamento ou consciência. Àquelas percepções que entram com mais força e violência podemos chamar impressões; e sob este nome eu abranjo todas as nossas sensações, paixões e emoções, tal como primeiro surgem na alma. Por ideias entendo as imagens mais fracas destas impressões no pensamento e no raciocínio.
Aqui está um exemplo de como não se deve parafrasear:
Hume diz que todas as percepções da mente se dividem em dois tipos: impressões e ideias. A diferença está na intensidade da força ou vivacidade que têm nos nossos pensamentos e na nossa consciência. As percepções com maior força e violência são impressões: são as sensações, paixões e emoções. As ideias são imagens fracas de nosso pensamento e raciocínio.
Há dois problemas principais com paráfrases deste tipo. Em primeiro lugar, são feitas mecanicamente. Não demonstram que o autor compreendeu o texto. Em segundo lugar, uma vez que o autor ainda não compreendeu bem o que o texto quer dizer de modo a expressá-lo pelas suas próprias palavras, há o risco de inadvertidamente alterar o significado original do texto. No exemplo acima, Hume diz que as impressões "afectam a mente" com mais força e vivacidade do que as ideias. Mas a paráfrase diz que as impressões têm mais força e vivacidade "nos nossos pensamentos". Não é óbvio que isto seja a mesma coisa. Além disso, Hume diz que as ideias são imagens fracas das impressões; mas a paráfrase diz que as ideias são imagens fracas do nosso pensamento, o que não é a mesma coisa. Assim, o autor da paráfrase parece não ter compreendido o que Hume diz.
Um modo muito melhor de explicar o que Hume diz aqui seria o seguinte:
Hume afirma que há dois tipos de "percepções" ou estados mentais, a que chama impressões e ideias. Uma impressão é um estado mental muito "forte", como a impressão sensorial que alguém tem ao olhar uma maçã vermelha. Uma ideia é um estado mental menos "forte", como a ideia que se tem de uma maçã quando pensamos sobre ela sem a ver. Não é claro o que Hume quer dizer com "forte". Pode querer dizer que... ".
PRYOR, J. (2009). Como se escreve um ensaio de filosofia. Consultado em 20 de Fevereiro de 2021 in: https://filosofia.ufsc.br/files/2013/04/JamesPryor.pdf
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